SEM, PENTUA
O silêncio da noite é
extraordinário. Quando ocorre a oportunidade de contemplar esse momento, todas
as vozes interiores são ativadas. Isso ocorreu ontem. A cada quilômetro
superado e conectado na magrela, o ambiente evidenciava mais e mais o seu
domínio. E minha mente, maquinando. Na verdade, não arquitetava ou bolava nada.
Apenas meus olhos observavam e compenetrados admiravam o céu e seu breu
predominante, mais a lua no término da fase crescente. Jamais deixo de mencionar
a lua. Observo-a com entusiasmo e respeito e as estrelas que sumiam e apareciam,
igualavam-se aos olhos protetores daqueles que te querem bem. Dessa maneira
segui o longo trecho até a residência. Nos dias atuais, torno-me felizardo em
demasia, pois a violência impetrada em cada esquina, não possibilita um
percurso desses, em sua plenitude, sem que ocorra ação de outrem. Até mesmo o
trânsito profuso do dia a dia, dá certa trégua. Todavia, o perigo aumenta.
Notei veículos seguindo na contramão. Sinaleiros, ou se preferirem, semáforos,
serem superados sem prudência e seriedade, perante a cor vermelha. Os atores
dessa época são escassos, mas a imagem noturna da urbe é singular. Torno-me
nômade por completo e feito lobo andarilho, sei que a caça é escassa e o
bel-prazer da toca, a meta. Camuflado pelo preto dominante da vestimenta, eu
era o estrangeiro dessa terra. Mas, o sopro da mente reativou lembranças.
Então, o tormento dessa divisão, formou dois indivíduos, diante dos inúmeros
possíveis. O novo reinante controverso desse instante imagético aplicava inexoravelmente sua vontade. Lembranças
demudaram o ambiente. Abraços, agradecimentos e faces alegres, surgiam em
abundância. Por quê? A outra parte tentou replicar e pouca chance obteve, pois
o novo momento não lhe pertencia. E, a energia estabelecida esmagou-o. O
sociável se fazia presente. Sentir, tocar e admirar, era o conjunto das ações
adquiridas. O silêncio da noite desapareceu. Não há silêncio quando há
semelhante. O contexto retornou no tempo. Tempo esse de celebrar e mesmo diante
dos entraves persistentes, o que realmente importava era a presença de outrem.
Semelhança em demasia alastrava-se pelo espaço hospitaleiro no bar em que eu
estava. O incômodo de saber as horas fora sepultado. O que importava apenas
chamava-se, liberdade. Perceber o pouco espaço do recinto, a cada empurrão,
deixava mais clara ainda essa liberdade de não temer o próximo. Os meios
midiáticos alastram dia a dia essa possibilidade de intimidar-se. Mas, ali não.
Conseguir captar essa energia é desafio crescente e de repente uma voz confusa,
entrou em cena: Moço, estou longe do Largo da Ordem? Cognome abundante na mente
dessa gente de sorriso pendente, pois o certo é dizer Largo Coronel Enéas.
Nesse instante, acordei do delírio prazeroso e atordoado parei a magrela e
respondi: Não, está bem próxima. Pode me acompanhar, até lá? Ela complementou: Assim
me sentirei mais segura. Apossado novamente pelo silêncio da noite, a voz da
moça desorientada não trouxe firmeza. Feito raio em céu pedrento, respondi
rapidamente, não e dali sai em disparada, conectado na magrela. É estranho como opera o instinto nessas
situações e de repente avistava o portão de casa. Desconectei da magrela. Abri
a porta de casa e estranhamente o sociável soprou seu frenesi, novamente, em
bizarro discurso:
“Ímpar poderia ser o desfecho
daquele episódio insólito! Pois, a andança em terras estrangeiras, sempre
desagrada os desavisados...”.
JRA (o poeta da verdade).
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